quinta-feira, 20 de maio de 2010

as águas e o espelho

,


o espelho não...
não este espelho inflexível, civilizado
este objeto reto e constante que para escorrer no tempo
atropela o meu tempo, indiferente
geométrico

nesta matéria trabalhada
destino selado de seu outro lado:
agarra-se o objeto pelas costas sem cabelos
os dedos firmes
  de quem quer o que já se espera
penduro na parede um quadro
o mesmo quadro hoje e amanhã
momento detido no curso
não respiro para ver melhor
isso não, mortifica-me a cada micro-instante.
um espelho não deve cair

mas dentro dos meus olhos de pedra
um fogo
e o meu corpo de água
dispersa-se no infinito
não quer estática a matéria cuja
fluidez pede o movimento de um rio
ou um poço de fundo turvo ou calmo-límpido
lugar onde
  sonha a imagem transformadora
onde a qualquer momento salta um peixe,
nasce uma flor, mergulha um narciso.






.

Um comentário:

  1. Muito bom passar por blogs alheios e encontrar um texto desse

    Parabéns

    ResponderExcluir