sexta-feira, 3 de abril de 2009

a lua do Persa


Rubaiyat


Volte em minha voz a métrica do Persa

A recordar que o tempo é a diversa

Trama de sonhos ávidos que somos

E que o secreto Sonhador dispersa.


Volte a afirmar que é a cinza, o fogo,

A carne, o pó, o rio, a fugitiva

Imagem de tua vida e de minha vida

Que lentamente se nos vai de logo.


Volte a afirmar o árduo monumento

Que constrói a soberba é como o vento

Que passa, e que à luz inconcebível

De Quem perdura, um século é momento.


Volte a advertir que o rouxinol de ouro

Canta unicamente no sonoro

Ápice da noite e que os astros

Avaros não prodigam seu tesouro.


Volte a lua ao verso que tua mão

Escreve como torna no temporão

Azul a teu jardim. A mesma lua

Desse jardim há de te buscar em vão.


Sejam sob a lua das ternas

Tardes teu humilde exemplo as cisternas,

Em cujo espelho de água se repetem

Umas poucas imagens eternas.


Que a lua do Persa e os incertos

Ouros dos crepúsculos desertos

Voltem. Hoje é ontem. És os outros

Cujo rosto é o pó. És os mortos.


Jorge Luís Borges

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94.


A lua do Ramazan

Acaba de aparecer.

Amanhã o sol banhará

Uma cidade silente.


Os vinhos dormirão quietos

Em suas urnas, e à sombra

Dos bosques repousarão

Tranqüilas as raparigas.


Rubaiyat - Omar Khayyam (séc XI). trad. Manuel Bandeira (séc. XX)



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