Volte em minha voz a métrica do Persa
A recordar que o tempo é a diversa
Trama de sonhos ávidos que somos
E que o secreto Sonhador dispersa.
Volte a afirmar que é a cinza, o fogo,
A carne, o pó, o rio, a fugitiva
Imagem de tua vida e de minha vida
Que lentamente se nos vai de logo.
Volte a afirmar o árduo monumento
Que constrói a soberba é como o vento
Que passa, e que à luz inconcebível
De Quem perdura, um século é momento.
Volte a advertir que o rouxinol de ouro
Canta unicamente no sonoro
Ápice da noite e que os astros
Avaros não prodigam seu tesouro.
Volte a lua ao verso que tua mão
Escreve como torna no temporão
Azul a teu jardim. A mesma lua
Desse jardim há de te buscar em vão.
Sejam sob a lua das ternas
Tardes teu humilde exemplo as cisternas,
Em cujo espelho de água se repetem
Umas poucas imagens eternas.
Que a lua do Persa e os incertos
Ouros dos crepúsculos desertos
Voltem. Hoje é ontem. És os outros
Cujo rosto é o pó. És os mortos.
Jorge Luís Borges
................ ................... ..................
94.
A lua do Ramazan
Acaba de aparecer.
Amanhã o sol banhará
Uma cidade silente.
Os vinhos dormirão quietos
Em suas urnas, e à sombra
Dos bosques repousarão
Tranqüilas as raparigas.
Rubaiyat - Omar Khayyam (séc XI). trad. Manuel Bandeira (séc. XX)
sobre os Rubaiyat
Nenhum comentário:
Postar um comentário