sexta-feira, 1 de novembro de 2024

presilha

me perdi quando você me mutilou.
a.mor: eu, objeto de um outro.
depois, você foi embora com meus pedaços.

fiquei, com os seus em mim.

Sen

       ti.


objetos definem a sua ausência 

compondo uma paisagem que não terminou.

restos de nós insensíveis ao nosso movimento:

atrás da foto retirada do mural, uma letra vermelha murmura carinhos
há um bilhete entre as roupas dobradas na gaveta, há cadernos no escritório.
uma camiseta do dia-a-dia esquecida no varal.
a presilha favorita adormecida sobre a pia do banheiro.

as plantas, essas sim, padecem comigo.


me pergunto: o que guardei? o que acendeu a casa agora só minha?
casa sem você.
espaço, tanto.
mas você, ainda.

fui te escondendo, te encaixotando.
coloquei você em armários,
nesses cantos onde a gente não olha,
onde ninguém pensa, nem velamos,
nem temos que lembrar sem querer.

fecho a porta devagar,
como quem guarda uma infância,
com um cuidado de nunca mais.

sábado, 6 de agosto de 2022

Achados e perdidos (lost in paradise)


No princípio era o verbo


E tu me amaste e eu te amei



Pensando nisso errei


                            [ erramos ]


Confundimos os planos

de Deus.


terça-feira, 23 de março de 2021

.

seremos como formigas
nos ocupando de dia

em mecânica paz


mas não somos formigas, e
repetimos sem perceber
a chuva invadindo o país

a raiz escapa para dentro
a folha foge do topo
perto um pássaro sopra
a palavra certa
que virá antes e depois


e nós
fugiremos da terra
que nos fez companhia
e seremos de novo

nós
dois

                                                             junho de 2012

terça-feira, 14 de agosto de 2018

sem terras marcham até Brasília
gente emocionada faz greve de fome
nosso povo vai se debilitando.

homem da paz vem de muito longe denunciar.

do silêncio da torre, uma voz se agita no maior jornal do mundo.

a rainha retira o bispo

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Hein, Coração, vê se para de tanto sentimentir
                                                                 [repetir
dá uma corda pra razão
chega de bater cabeça
fica de novo comigo, vai?
não há muito pra onde ir
e já andamos muito longe de mim.
//
do Cacaso:
ENCONTRO DESMARCADO
admiro muito meu amor
porque sempre está por perto de si mesma e
longe de mim e eu tenho
andado muito longe de mim e perto de si mesma.

domingo, 8 de novembro de 2015

Eu acordava e ela estava deitada ao meu lado me olhando e sorrindo. Com esse carinho ela começava a falar e eu queria ouvir. Mas então tudo ficava mais lento, doppler, borrado. Seu rosto transfigurava, sua boca escorria em carne. Sonho lynchiano. fonemas embaralhados, vinil em baixa rotação. Da voz monstruosa da pessoa amada  pude capturar: "ET MAO". Acordei no real e ela dormia virada para o outro lado. 

Nessa época não havia translate.google e hoje pesquisei para além do mero anagrama. Et mao: "teste de risco" em chinês simplificado. Um sonho em si pode dizer coisa nenhuma, aqui começa e jaz o mistério.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Triste baía 
do Santa Maria
e olha que fazia céu de aquarela.
Santa Idolatrada, salve-se 
                      salve 
                salve nada 
ou 
a canção mais singela.

https://www.youtube.com/watch?v=kMq7D4qQP48